Mapa de Saúde do Solo na América Latina e Caribe alerta para políticas públicas e sustentabilidade ambiental

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Países como Colômbia e Venezuela lideram em termos de extensão de solos saudáveis; Nordeste brasileiro, norte do México e partes do Chile e Argentina enfrentam os maiores desafios (Mauricio Cherubin)
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O primeiro mapa de saúde do solo da América Latina e Caribe (ALC) apresenta um panorama detalhado sobre o estado atual da saúde dos solos do continente e aponta caminhos cruciais para políticas públicas voltadas à conservação e manejo sustentável. Liderado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e do Centro de Estudos de Carbono na Agricultura Tropical (CCARBON/USP) da Universidade de São Paulo, o estudo publicado na revista Communications Earth & Environment (Nature) utiliza tecnologia de sensoriamento remoto e aprendizado de máquina para mapear, em alta resolução, os indicadores físicos, químicos e biológicos que definem a saúde do solo.

O retrato dos solos na região – De acordo com o Prof. Raul Poppiel, autor do estudo, o mapeamento revelou que 38% dos solos da ALC são considerados não saudáveis, ou seja, degradadas, enquanto 28% moderados e apenas 34% apresentam boa saúde. As áreas mais críticas estão concentradas em regiões áridas e de savana, como a Caatinga e o Cerrado, enquanto os solos mais saudáveis se encontram em zonas equatoriais úmidas. A Amazônia, embora coberta por vasta biomassa vegetal, em geral apresentou índices médios a baixos de saúde do solo, o que reforça a vulnerabilidade do solo e urgência de medidas de conservação.

"A saúde do solo é fundamental não apenas para a produção agrícola, mas também para o equilíbrio dos ecossistemas, o que a torna crucial para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas", afirma o Prof. Maurício Cherubin, vice coordenador do CCARBON, e um dos co-autores do estudo. De acordo com o estudo, fatores como desmatamento, manejo inadequado das terras e mudanças climáticas têm agravado a degradação dos solos. “Encontramos uma relação direta onde áreas com maior frequência de solos expostos (sem cobertura vegetal) tem os piores níveis de saúde do solo”, explica Prof. José Alexandre Demattê, co-autor e uma das maiores referências mundiais no uso de tecnologias para mapeamento de solos.

Tecnologia a serviço do solo – O prof. Raul Poppiel destaca que o diferencial do estudo está na utilização de mapas de alta resolução (90m), construídos com grande volume de dados georreferenciados de solos, de sensoriamento remoto e algoritmo de aprendizado de máquina. Essa abordagem inovadora potencializa o uso dos dados disponíveis para realizar uma avaliação integrada e detalhada da saúde do solo.

De acordo com o Jean Novais, pós-doc na Esalq e co-autor do estudo, a metodologia permitiu uma análise aprofundada de funções essenciais do solo, como armazenamento de carbono, retenção de água e suporte ao crescimento das plantas. Além disso, os pesquisadores identificaram os principais fatores intrínsecos que influenciam a saúde do solo, destacando indicadores críticos como densidade, porosidade total, teor de carbono e disponibilidade de água para as plantas. A abordagem combinou tecnologias como computação em nuvem e conhecimento empírico aplicados a dados de observação da Terra para gerar um modelo capaz de representar o status dos solos da ALC, o que resultou em um estudo sem precedentes. Ainda segundo o pesquisador da Esalq: “Desde a concepção até o desenho final do artigo, passamos por várias discussões entre os autores, editores e revisores com o intuito de encontrar a forma mais completa e clara de representar o panorama dos solos desta região tão importante para o nosso planeta e que enfrenta desafios socioeconômicos e ambientais.”

Impacto para políticas públicas – O estudo fornece uma base científica sólida para o desenvolvimento de políticas públicas específicas para diferentes biomas e países da região. Cherubin frisa que "Mapeamentos como este permitem direcionar investimentos e programas de recuperação para áreas mais críticas, de modo a maximizar os resultados ambientais e socioeconômicos".

Países como Colômbia e Venezuela lideram em termos de extensão de solos saudáveis, enquanto regiões como o nordeste brasileiro, norte do México e partes do Chile e Argentina enfrentam os maiores desafios.

Brasil no centro das discussões globais – O Brasil, com sua vasta extensão territorial e relevância agrícola, desempenha um papel central na saúde do solo na América Latina. Em 2025, o país será palco de eventos globais cruciais: a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) em Belém, o Simpósio Latino-Americano e Caribenho de Pesquisa sobre Carbono do Solo (LAC Soil Carbon) no Rio de Janeiro, e o XXXIV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo em São Luís, Maranhão. Em 2026, o CCARBON sediará o X Simposio Internacional de Matéria Orgânica, evento que ocorrerá pela primeira vez na América Latina. Esses encontros serão oportunidades fundamentais para destacar os avanços científicos, compartilhar experiências regionais e reforçar o compromisso com práticas sustentáveis de manejo do solo.

Um chamado à ação – Os resultados trazidos pelo estudo apontam para a necessidade urgente de adoção de práticas sustentáveis, como sistemas de plantio direto, recuperação de pastagens degradadas e manejo integrado. Além disso, destacam a importância de cooperação internacional, padronização de métodos de monitoramento e investimento contínuo em ciência e tecnologia, finaliza Prof. Poppiel.

A pesquisa, fruto de uma colaboração internacional entre Esalq/USP, CCARBON, e instituições parceiras, reforça o papel central dos solos na agenda global de sustentabilidade.

Explore os resultados completos do estudo - Quer saber mais sobre os mapas detalhados e indicadores da saúde dos solos na América Latina e Caribe? Acesse o artigo completo na revista Communications Earth & Environment (https://www.nature.com/articles/s43247-025-02021-w) e explore todas as descobertas  aqui.

Além disso, você pode visualizar os mapas interativos através da plataforma Earth Engine neste link e realizar o download direto dos dados aqui. Para acessar os arquivos raster completos no repositório Zenodo, clique aqui. Explore a distribuição das classes do Índice de Saúde do Solo (SHI) entre biomas e países da ALC por meio do diagrama interativo Sankey, disponível aqui.

Financiamento - Este estudo teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) por meio de projetos temáticos (2014/22262-0; 2021/05129-8) e o CEPID – CCARBON (2021/10573-4).

Com informações do CCARBON (26/2/2025)

Mapa de Saúde do Solo da América Latina e Caribe. Fonte: CCARBON/USP e Esalq/USP